Nota de Professor da UFT sobre a decisão de deflagrar a greve

segunda-feira, junho 27, 2011 Por Imprensa do DCE/UFT


Os docentes da UFT deliberaram pela greve a partir do dia 27/06, após discutirem quatro propostas, incluindo aquelas que foram relatadas pelo Prof. Vinicius nos informes, a partir dos relatos das reuniões ocorridas em Araguaína, Gurupi e Tocantinópolis. Como se sobressaíram algumas afirmativas sobre arbitrariedade, precipitação etc. na deliberação, penso que algumas palavras se fazem necessária a fim de enriquecer, se possível, o debate, com o intento de que tenhamos lucidez em nossa discussão sobre o que pretendemos a partir desta segunda.


Nossa decisão dá-se em um contexto em que alguns pontos destacam-se:

a) Encontramo-nos em um período de modificações em relação à função da universidade no Brasil e, por conseqüência, da valorização ou não, do trabalho docente. Não é mais mistério para ninguém que os nossos salários estão por demais defasados. O salário-base de um professor 20 horas nas Instituições Federias de Ensino é de R$ 1.491, 00, com grande parte dele sendo de gratificações. (É salutar ler a proposta do ANDES para a campanha salarial 2011, que, dentre outros assuntos, estabelece como base o salário de R$2.194.76) Ou seja, vivemos em um processo que vem do começo da década de 90 caracterizado pela instituição do salário em forma de gratificação, que corresponde a 75% dos vencimentos. Além disso, neste contexto, há o estímulo a reforçar o salário através de bolsas (PARFOR, bolsa-produtividade etc.), que ao acréscimo de atividades e cronogramas há um acréscimo mínimo de salário. Lembremos que muitas destas bolsas são periódicas e não alcançam a totalidade da classe docente. Em suma: um paliativo apenas!

b) Desde o ano de 2010, no Congresso do ANDES, em Belém do Pará, a SESDUFT apresentou, a partir de decisão em Assembléia Geral, a proposta de greve já por um salário digno, justamente em um ano eleitoral o que poderia levar a um ação mais sólida e eficaz. Disseram que não estávamos mobilizados no momento da decisão no referido Congresso. Mais de um ano se passou!

c) Foi à toa e precipitada a decisão da SESDUFT? Argumento que não por uma razão simples: nós, docentes da UFT, chegamos à universidade num contexto do governo Lula da Silva, a partir de 2003, quando houve uma duplicação de vagas nas federais e criação de mais 14 novas universidades federais. Fazemos parte de um momento em que, ao contrário de universidades mais antigas, não incorporamos nada ao salário, reforçando-o, como URP e outras vantagens. Ou seja: o nosso salário base é um dos menores no contexto das IFES. E salário baixo em um estado caracterizado pelo alto custo de vida! Então, sempre teremos mais dificuldades, se comparados a outras instituições. Daí que sempre lutaremos e estaremos à frente dos movimentos reivindicatórios!

Passado esta consideração ao contexto, o que percebemos quanto à negociação com o governo tão enfatizada nas considerações? Em relação às negociações, atentamos, pelo relatório do que vem acontecendo, que o governo não negocia efetivamente. Negocia-se quando à proposta apresentada por uma entidade se contrapõe, apresentando uma outra proposta, ou então se faz considerações acerca da proposta apresentada. Mas o que se percebe pelos relatórios é ação do governo em tergiversar, em adiar sempre, colocando para adiante uma proposta. Aguardaremos até quando? O governo adia sem concretamente apresentar nenhuma proposta: 22/06.....11/07...quando em agosto?.....quando em setembro?.....De qualquer modo, ao intento está posto: o governo que postergar o máximo possível esta “negociação”! Do modo que as coisas caminham estaremos negociando para 2013, pois as alterações na LDO tem que serem feitas agora, no momento de sua votação, inclusive com aumento de recursos. Depois o governo terá todo o argumento para adiar para o outro ano a propositura de aumento. Mas depois teremos outros argumentos “convincentes”: os gastos com a Copa do Mundo e com as Olimpíadas que serão mais importantes para a nação do que aumento de uma categoria que nada colabora para o pão e circo. Não aceitaremos este argumento? Não estaremos negociando com o governo?

A decisão tomada na última terça-feira, que foi coletiva e na instância legal que reza o nosso estatuto, visou a uma reclamação da base do sindicato dos docentes. E não foi contrário à “indicação” do ANDES-SN, que aponta para a construção da greve. Se deixarmos para agosto levaremos pelo menos 2 semanas para novamente “construir” a greve a partir do convencimento dos professores. Além disso, a deflagração ganha importância porque agora em julho haverá o CONAD, onde a greve estará em pauta. Mas uma coisa é chegar nesta reunião nacional de nosso sindicato com duas ou três seções sindicais apontando para greve já, o que, parece-me, terá peso; a outra é chegarmos lá com titubeações.

Nesta segunda teremos chance de um bom debate trazendo as diversas opções e análises. Estes pontos podem ser levados em conta a fim de que construamos a nossa opção como uma ação unitária, envolvendo a todos, independente da área ou do campus, pois todos nós, professores da UFT estamos no mesmo barco...e sabemos onde a corda aperta! Tivemos coragem, em 2005, mesmo com a totalidade de nós em estágio probatório (que é sempre lembrando para arrefecer os ânimos), em sermos a terceira federal a efetivar a greve!....Mas podemos agora renunciar a este protagonismo e esperarmos a Mamãe Noel Dilma e seus ajudantes (Melchior, Duvanier, Haddad) dar-nos o aumento, sem luta e sem reclamações, a partir de um ato de bondade!...Acreditamos que isto vai acontecer?

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