O Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) está destinado à confusão. Após uma tentativa de fraude, que adiou a sua realização em dois meses e fez com que universidades tradicionais como USP e Unicamp desistissem de usar a nota da prova, mais uma trapalhada manchou a iniciativa do governo federal de substituir o vestibular nas instituições federais pelo Enem.

No final da noite, o Inep informou que divulgará os gabaritos corretos a partir das 10h de hoje.

As 45 questões de cada prova foram embaralhadas e distribuídas em cadernos coloridos. Um estudante ganhava a prova azul, e outro, sentado ao lado dele, ganhava uma prova rosa. As questões eram as mesmas, mas estavam dispostas em ordem diferente. Por exemplo: a questão 93 da prova de Linguagem e Códigos e suas Tecnologias no caderno rosa tinha a resposta D. A mesma questão, no caderno azul, estava no número 92 e, segundo o gabarito do MEC, tinha como resposta certa a letra A.

Essas “inconsistências” começaram a ganhar força em fóruns da internet e respaldo em professores de cursinhos, que começaram a comparar os diversos cadernos e a confirmar que havia algo errado. Foi o caso dos irmãos Thiago e Matheus Pinheiro, de 20 e 24 anos, de Santa Maria.

Os irmãos chegaram a consultar um amigo, o professor de História Everton Martins, para checar as diferenças entre as provas. Ao ler a questões, o docente constatou os erros. Segundo ele, foram constatadas problemas em três questões: "– Parece desleixo. Vi esses jovens estudarem muito, e agora descobrem que sequer houve cuidado com a divulgação correta dos gabaritos."

Professor de física e diretor do Unificado, Enio Kaufmann afirma que liberar o gabarito errado para uma prova que é feita para milhões de alunos “é um absurdo”. Uma situação como essa, segundo ele, acaba deixando os estudantes inseguros: " – Mais uma vez, fica a pergunta: por que tanta pressa para fazer essa prova? Por que não se deixou essa prova para fazer em 2010?"

Ao confrontar as respostas de matemática, as irmãs Débora e Denise Stolmik, de 19 e 17 anos, de Porto Alegre, ficaram assustadas. Elas identificaram, pelo menos, três erros. E desistiram de confirmar o restante da prova. "– A gente parou de corrigir, porque viu que não valia mais a pena. É um desaforo. Uma prova desgastante, longa e que, no final, sequer os gabaritos estão certo "– desabafou Débora.
FONTE: Site do Jornal Zero Hora

O vazamento

- O Ministério da Educação anunciou no dia 1º de outubro a suspensão da prova do Enem, que deveria ocorrer entre os dias 3 e 4, após o conteúdo das questões vazar. A Polícia Federal indiciou cinco pessoas no caso.

- O cancelamento do Enem foi informado após reportagem do O Estado de S. Paulo. O jornal foi procurado por dois homens que informaram ter recebido a prova de um funcionário do Inep. Eles pediram R$ 500 mil por ela.